Relatos de
horror de um expresidiário, o Chileno da Silva Agostinho, o 'Picahu', que
contou como funcionava a lei da cadeia, falou da entrada de drogas e como
aconteciam as fugas. Acompanhe a entrevista.
O Mossoroense - Há
quantos anos você foi condenado? E por quê?
Chileno da Silva
- Eu fui condenado a sete anos por um homicídio.
OM - Quantos
anos você ficou na João Chaves?
CS - Eu fiquei
lá seis anos e quatro meses.
OM - Como
funciona a lei na cadeia?
CS - Lá rola a
lei do silêncio. Você tem que escutar e ficar calado. Ver e não dizer nada.
OM - E com
relação a drogas, como entra na cadeia?
CS - Lá tem de
tudo, maconha, crack, cocaína e bebida. A droga entra nos dias de visita. As
mulheres dos presos levam na vagina.
OM - Com quantos
presos você ficava na cela?
CS - Era eu e
mais sete.
OM - Durante o
tempo em que esteve lá, você presenciou alguma fuga?
CS - Sim. Uma
vez fugiram 16 na marra. Eles estavam com pistola e espingarda calibre 12.
Dessa vez teve um que foi ferido na troca de tiro. Quinze dias depois
teve outra fuga.
OM - E alguma
morte?
CS - Uma vez
teve um problema com um dos presos por causa de 'caguetação'. Quando foi no
banho de sol ele foi cercado quando saía da igreja e foi morto.
OM - Quem
assumiu essa morte?
CS - Foi um
'laranja'. Eles disseram ou você assume ou morre. Então ele pegou a faca e se
sujou de sangue e assumiu. Era o único jeito de não morrer também. Lá existia
a cela do cemitério.
OM - Como assim?
CS - Era o
local onde os presos colocavam quem morria. Eles cortavam em pedaços,
colocavam num saco e enterravam.
OM - Como eram
escavados os túneis?
CS - A gente
fazia uma 'bacia' na cela e começava a escavação. Cavava seis metros para
baixo e depois iluminava com lâmpadas, colocava ventilador e por aí vai.
OM - Onde era
colocada a areia?
CS - A gente
escondia debaixo das camas e colocava nos pavilhões que estavam vazios.
OM - Não havia
inspeção nos pavilhões?
CS - Não. Porque
as galerias eram arrombadas e os guardas não iam até lá. Eles tinham medo e
só iam até as primeiras galerias.
OM - E esses
túneis não eram descobertos?
CS - Só quando
havia alguma 'caguetação' de algum preso.
OM - Havia a
conivência de algum policial?
CS - Às vezes.
Em todo canto tem a máfia, né? Mas a partir de 2002 quando chegaram os
agentes carcerários as fugas e outras coisas lá diminuíram. Antigamente era
mais fácil.
OM - Existiam
facções lá dentro do presídio?
CS - Sim. Tinha
um grupo denominado de 'Turma do Gueto' que era formado por 8 a 12 presos
condenados por latrocínio, condenados a 25, 30 anos de prisão. Eles não
tinham nada a temer e viviam extorquindo os outros presos e tentando fugir.
Quem resistisse ou denunciasse era morto. No dia das visitas eles
tomavam as coisas dos outros.
OM - O que
aconteceu com eles?
CS - A família
de alguns presos denunciou eles e a direção transferiu eles para Alcaçuz
porque estavam aprontando muito lá dentro.
OM - Como era a
divisão de presos?
CS - Na cela do
Morro de Mãe Luiza ficavam oito, das Rocas mais outros e por aí vai...
OM - E com
relação a estuprador. Como era?
CS - Estuprador
não tem vez na cadeia. Eles tinham que ficar bem quietinhos e servir de
mulher para os outros presos. Vestir calcinha, lavar roupa, raspar a cabeça e
tudo mais. Aqueles que não tinham visitas íntimas faziam eles de mulher. É a
lei da cadeia.
OM - A todos os
presos?
CS - Sim. Do
pavilhão 1 até o 20. Era para todos.
OM - E durante
as visitas, o que acontecia com eles?
CS - Eles
ficavam bem quietinhos num canto da cela.
Não podiam nem olhar pro corredor.
OM - Não tinha
como eles ficarem isolados?
CS - Não, porque
tudo era aberto. A João Chaves era um verdadeiro queijo suíço de tanto
buraco. Quando os presos queriam matar alguém eles matavam.
OM - Na cadeia
existem várias gírias. Cite algumas.
CS - Droga era
café; celular é rádio; estuprador é menino e polícia é óleo.
OM - Existe um
líder nas celas?
CS - Sim. Os
mais velhos é que mandam nos pavilhões. Exemplo: Brinquedo do Cão era o líder
porque era o mais velho lá.
OM - Você passou
por alguma situação difícil por lá?
CS - Sim. Eu
trabalhava na faxina e os presos queriam que eu fizesse 'avião' pra eles. Eu
me recusei porque minha pena era curta e quase fui morto.
OM - Como assim?
CS - Eles
pediram pra eu falar com os guardas pra colocar um quilo de maconha pra
dentro. Eu me recusei e por isso durante um banho de sol apanhei muito deles.
OM - Tem muita
mulher presa por lá? E elas tem contato com os outros presos?
CS - Sim. 56
mulheres cumprem pena por crimes diversos. Na quarta-feira boa parte delas
vai pro pavilhão masculino servir os presos.
OM - E as
visitas são respeitadas?
CS - Sim. Quem
não respeita morre. Uma vez dois dos presos foram pegos se masturbando no
banheiro depois da visita e quase morreram de tanto apanhar. A visita é a
coisa mais respeitada na cadeia.
OM - E aqui na
Mário Negócio como é?
CS - Aqui é bom
demais porque não tem esse negócio de ninguém mandar não. Aqui todo mundo é
igual.
Outro preso que
também guarda algumas lembranças da João Chaves, é José Faustino de Sá, 35
anos, o 'Djavan', que passou três anos preso acusado de tráfico de drogas, no
ano de 1995.
O Mossoroense -
Que lembranças você guarda do tempo em que ficou preso por lá?
José Faustino -
As lembranças são de algumas amizades que eu fiz. Alguns eu vi serem mortos
sem eu fazer nada, senão eu morria também.
OM - Exemplo?
JF - Tinha
Chocolate, que foi que matou Demir, Acácio e outros por lá. Quando eu cheguei
fui colocado na cela dele e logo fizemos amizades.
OM - Por que ele
matou Demir, você sabe?
JF - Rapaz, tudo
começou com a briga por causa de uma arma. Tinha noite que ele acordava
assustado, dizendo que estava sonhando que tava matando Demir. Então, ele
dizia: "Tenho que matar ele, senão eu vou enlouquecer". Então, ele
foi e matou ele.
OM - Você
presenciou alguma morte?
JF - Sim. A de
Chocolate. Os caras pegaram e mataram ele com golpes de soco e pauladas
durante um banho de sol.
Teve também a de
'Canindé do Mereto'. Ele morreu por causa de vacilo. Ele tava aguentando o
pessoal e os presos não admitiam isso. Teve também Naldinho, Paulo Queixada,
Paulo do Detran e outros.
OM - Você tem
pesadelos por causa do tempo em que passou por lá?
JF - Sim. Tem
noite que acordo assustado vendo os policiais invadindo os pavilhões.
OM - Qual a
lição que você tirou desse tempo que esteve preso?
JF - A lição é
que consegui sair de lá com vida. E agora quero é terminar de criar a minha
família. Ainda hoje tenho pesadelos. Me acordo assustado, mas estou me
recuperando.
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esse ex detento mentiu em um bocado de coisa.primeiro quem matou chocolate não foram os outros presos.chocolate morreu numa tentativa de fuga,nessa fuga morreu ele e mais sete detentos.ainda me lembro de alguns,como xico bento e outros.e paulo do detran,se não me engano ainda está vivo.
ResponderExcluirUm monte de mentiras e poucas verdades.
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