Elas desapareceram e ninguém sabe ao certo
o paradeiro nem o autor do crime. A vizinhança levanta suspeitas, mas não há
testemunhas. As autoridades públicas afirmam que a prática é comum e não vão
deixar de fazer o seu papel. O sumiço em questão é das lixeiras da rua João
Pessoa no centro da cidade.
Do trecho entre a avenida Rio Branco e a avenida
Marechal Deodoro da Fonseca, 12 lixeiras do tipo papeleira foram roubadas e
outras duas estão danificadas. O enorme fluxo de pessoas do local conta agora
somente com dois depósitos intactos – já no trecho entre a avenida Princesa
Isabel e Deodoro da Fonseca.
Segundo vendedores ambulantes da região, lixeiras novas
foram instaladas pela Prefeitura de Natal há cerca de cinco meses. Mas apenas
um mês depois os depósitos foram quebrados ou roubados. Pelo menos é isso que
conta o vendedor de lanches Juscelino Gomes da Silva, que trabalha há oito anos
no local. “A Prefeitura colocou, mas infelizmente a vagabundagem quebra. Às
vezes é até para vender porque isso é plástico”, cogitou.
Na falta de depósitos adequados, Juscelino faz a sua
parte trazendo uma sacola plástica para uso de sua clientela, mas deixa que
outras pessoas também usem em nome da limpeza do espaço público. “Às vezes eu
estou aqui, eles colocam no meu lixo. Eu gosto sempre de trazer um saquinho”,
mostrou com orgulho.
A flanelinha Mayara Gomes está há oito meses cuidando de
carros em frente da Caixa Econômica Federal da rua João Pessoa. A suspeita dela
também é a mesma do vendedor de lanches. “São moradores de rua que tiram ou
estragam aí”, disse apontando para uma das lixeiras que chegou a ser retirada
quase inteira.
Os clientes dela também comentam a ausência de depósitos
para o lixo. “O pessoal comenta que não gosta de jogar lixo na rua e que não
tem uma lixeira para jogar”, contou a flanelinha.
As lixeiras tinham uma distância variável entre 20 a
cinco metros uma da outra. Agora, só se encontram as hastes onde eram acopladas
no meio das calçadas, ou os suportes de encaixe pelos postes.
Kainara Cartacho saiu da Caixa Econômica em direção a
avenida Rio Branco sem achar uma lixeira sequer. “Vim procurando de lá até aqui
e não tinha. Só vim ver achar aqui [no cruzamento com a Rio Branco]. Fazia uma
tempo que não andava por aqui recentemente, porque agora você fica recebendo
panfleto e não tem onde jogar”, disse.
Ainda assim, ela colocou o lixo num depósito sem tampa,
o que propicia o acúmulo de chuva e, por conseqüência, doenças transmitidas
pelo mosquito Aedes Aegypti (dengue e febre chikungunya).
Kainara acredita se os cidadãos soubessem da importância
de se ter uma cidade limpa, as lixeiras não desapareceriam. “É uma falta de
educação. Se tivesse, não danificava o patrimônio público”, acrescentou.
Sobre educação cidadã, a pedagoga Kenya Vaneska Lúcio
conta que durante uma caminhada sobre o calçadão da Rua João Pessoa, ela comia
um pastel envolvido em um saco de papel e achou que dificilmente teria um
destino correto se dependesse da quantidade de lixeiras disponíveis na via.
“Mas quando eu não acho [lixeira], eu guardo até
encontrar uma”, falou. Quando soube que a maioria dos depósitos de lixo haviam
estavam depredados ou foram roubados, ela logo disparou: “vou ter que jogar em
casa mesmo”.
Segundo Kenya, as novas gerações deverão estar mais
preocupadas em cuidar da limpeza do ambiente onde vivemos, seja com o hábito de
não jogar o lixo da rua, seja com a preservação do patrimônio público. “Todos
os projetos de escola são voltados para a valorização do meio ambiente. O
pessoal de antigamente não tinha essa preocupação, nem na minha época de escola
havia esse pensamento. O adulto de hoje se não conversar o meio ambiente para
ele, que faça isso, pelo menos, para aqueles que estão por vir”, orientou a
pedagoga.
Natal Mais Limpa
A implantação de lixeiras pela cidade está dentro do
projeto coordenado pela Companhia de Serviços Urbanos de Natal (Urbana). Desde
2013, foram instaladas 900 lixeiras pela cidade do tipo papeleiras com
capacidade de 60 litros. O problema é que 40% delas foram depredadas ou
roubadas. Os depósitos da rua João Pessoa entram nessa estatística também.
A Urbana avalia que o prejuízo esteja em torno de R$ 50
mil. A companhia já anunciou que irá repor os depósitos roubados ou destruídos
e ampliar as regiões contempladas, com cerca de 500 novas papeleiras. Mas de
acordo com a diretora de planejamento e gestão ambiental, Juliana Ubarana, não
especificou qual seria o prazo para essa reposição.
“Nós selecionamos as vias de maior circulação de
pedestre”, disse sem detalhar. Ela também falou que não tem como saber
exatamente se as papeleiras são roubadas com fins de venda para reciclagem.
Ainda segundo Urbarana, a companhia detecta a falta de um depósito por meio dos
seus garis quando realizam a limpeza deles.
Fonte: Portal JH
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