As mãos dela estão irreconhecíveis. Em
vários pontos do corpo há marcas de tiros. Mesmo assim, ela ainda tem alguma
atenção. As oferendas em torno da imagem provam que nem a destruição abala a fé
em Iemanjá. A estátua está depredada desde o início deste ano e vai passar para
o próximo na mesma situação.
De acordo com o presidente da Federação de Umbanda e
Candomblé do Rio Grande do Norte, Macilei Maciel, o dia 31 de dezembro não é
data oficial de adoração. Apesar disso, muitas pessoas enviam suas oferendas
para o mar. “As pessoas fazem isso para agradecer o ciclo do ano que está indo
e o início de um novo. Mas para nós, o dia de Iemanjá deve ser todos os dias”,
disse.
Oficialmente, o dia voltado para Iemajá é oito de
dezembro. No candomblé, dois de fevereiro. Mas o culto das oferendas no dia 31
de dezembro já é uma tradição que se deve mais a mistura das religiões
(sincretismo) no Brasil do que um ritual específico de alguma religião
africana.
O professor de educação física Fábio Azevedo promove
treino funcional nas proximidades da imagem. Para ele, a situação causa
vergonha. “É lamentável deixar uma situação dessas ocorrer. É ruim tanto
para o turista, quanto para a gente que mora aqui”, classificou. O jovem não
pertence a nenhuma das duas religiões.
A preocupação com a imagem que o turista leva da cidade mostra
que a imagem também tem valor turístico e cultural. Esse foi um dos motivos
pelos quais a Federação de Umbanda e Candomblé do Rio Grande do Norte conseguiu
a aprovação de um projeto de recuperação da imagem em um edital da Fundação
Cultural Capitania das Artes (Funcarte).
O edital público foi voltado para o financiamento de
festejos de expressões religiosas tradicionais. Conforme Macilei Maciel, o
projeto da Federação contempla tanto a festa de Iemanjá, no dia dois de
fevereiro, com cortejo pelo mar e apresentações musicais, quanto a produção de
uma nova imagem.
O valor total do projeto é de R$ 110 mil. A atual imagem
deverá ser doada para o Museu do Naufrágio, projeto que a Prefeitura de Natal
pretende instalar no fundo do mar para mergulhadores. O resultado saiu em 16 de
outubro deste ano. Como não houve tempo suficiente para inaugurar a nova imagem
em oito de dezembro (dia de Iemanjá para Umbanda), Macilei resolveu prorrogar
para fevereiro.
Apesar de se sentir abalado pela depredação proposital,
muitas vezes motivada pela intolerância religiosa, o presidente da federação
diz que toda a comunidade que adora Iemanjá vai superar esse momento. “Dá sim
uma dor no peito, mas essa deterioração nos deu força para correr atrás de uma
imagem nova”, disse. Depois da nova imagem de Iemanjá, o objetivo da federação
é recuperar a estátua de Oxum, localizada no rio Doce (Redinha), que também foi
vítima de vandalismo.
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