Marcelo Lima
Repórter
Yago
Jonas de Oliveira desafia previsões médicas desde que nasceu há 22 anos. Por
duas vezes, ele recebeu um “prazo” de vida que, com sua vontade de viver,
solenemente ignorou. O jovem nasceu com atrofia muscular espinhal do tipo dois,
uma doença degenerativa que impede que os músculos se desenvolvam.
Em
contraposição às perspectivas da ciência, ele se tornou pastor de uma igreja de
Natal. Desse modo, o jovem religioso tem levado sua lição de vida para toda a
comunidade evangélica da Região Metropolitana mesmo sobre uma cadeira de rodas.
Com 17
dias de nascido, sua avó e sua mãe levaram a criança ao médico depois de
perceberem a falta de rigidez muscular. “Eu peguei nele e a gente sente. Aí
deixei passar uns três dias e nada. Ele não tinha impulso nenhum. Quando a
gente coloca o menino na água fria, ele dá aquele sopapo, mas ele ficava ali
bem molinho”, contou Maria de Fátima Oliveira, avó de Yago.
A partir
de então, os médicos começaram a investigar o caso. Aqui em Natal já havia a
suspeita da atrofia, mas para ter certeza foi necessária a ajuda do Hospital
Sara Kubitschek, em Brasília, referência em reabilitação de pessoas com
problemas motores. O diagnóstico certeiro só veio aos três anos de idade.
A
fisioterapia durou até os oito anos de idade. Não havia mais possibilidade de
resultados. De acordo com a mãe Adriana Oliveira, três anos atrás no Centro de
Reabilitação Infantil (CRI) a explicação que recebeu era que o tratamento seria
encerrado “porque ele estalou. Não tem como estirar [os membros], os ligamentos
encurtaram. Não tem como esticar pela medicina e hoje estamos vivendo pela fé”,
completou a mãe.
Motivada
por essa fé, Adriana acredita que no desenvolvimento dos músculos do filho
mesmo sem tratamento algum. “A enfermidade estacionou. Hoje nós estamos crendo
num milagre”, afirmou.
Vencendo prazos
Para quem
já ultrapassou previsões de tempo de vida, fica fácil acreditar em milagres.
Primeiro, os médicos disseram que ele não passaria dos sete anos. Depois,
adiaram para os 15. Yago já está com 22. O não desenvolvimento dos músculos do
corpo afetou também os músculos relacionados à respiração de Yago.
As crises
começaram logo com um ano de idade, quando ele passou sete dias em uma Unidade
de Terapia Intensiva (UTI) e conseguiu superar uma infecção generalizada
conforme contou Adriana Oliveira. Aos cinco anos, Yago começou a ser vacinado
contra a pneumonia e gripe. Segundo a mãe, as doses vinham de Brasília porque o
acesso aqui ainda não era amplo.
Mas as
vacinas não eram a salvação. A imunização pneumocócica só poderia ser tomada
três vezes com um intervalo de cinco anos. Portanto, depois da dose tomada aos
15 anos, Yago não teria muitas chances de vida segundo a Medicina.
Mãe-enfermeira
O caminho
para a igreja começou pela mãe. Ela estava longe da religião desde que Yago
nasceu. Esse caminho também foi tortuoso, veio depois de uma depressão. “Foram
três meses de angústia na minha vida, eu não abria nem os olhos mais. Perdi
mais de 15 quilos num mês, ficava só deitada”, rememorou a mãe.
Adriana
acredita que um dos principais motivos da doença foi a exaustão. “Eu sempre fui
a enfermeira dele durante a noite, eu não conseguia mais dormir. Também pelo
esforço físico, eu não conseguia mais dar banho nele. É tanto que nesse meu
processo, paguei uma pessoa para dormir com ele”, declarou.
À noite,
ele não conseguia dormir porque seu corpo se cansava rápido da posição em que
se deitava. Para mudar de posição, é necessária a ajuda de uma pessoa. Yago
nasceu quando Adriana tinha apenas 18 anos. Hoje ela está com 40. Para Adriana,
a sua cura veio depois de ter voltado para a “ouvir a palavra de Deus”.
Foi nesse
mesmo momento, há seis anos, que Yago decidiu-se pela Igreja. Desde então, a
situação tornou-se mais suave de acordo com Adriana. “À noite chama duas ou
três vezes, mas não é toda noite. Ele achou uma posição para dormir, então
dorme eu e dorme ele”, disse aliviada.
Pastor
Desde os
16 anos, Yago Jonas – como é conhecido – frequenta a Igreja Palavra da Fé. Foi
também com essa idade que ele decidiu deixar de estudar após a conclusão do 9º
ano. Na luta contra as doenças respiratórias, ele já havia abandonado dois anos
letivos no passado. “Eu me sentia cansado. Nosso corpo tem limites”, explicou.
No seu
novo caminho, com dois anos e meio de Igreja veio o primeiro passo para se
tornar pastor. “A primeira vez eu preguei 15 minutos, geralmente é uma hora e
uma hora e meia”, disse Yago, que nunca tinha pensando antes em “cuidar das
ovelhas do Senhor”.
Só em
janeiro deste ano, ele foi nomeado oficialmente pastor de jovens e adolescentes.
Sua atuação não se restringe à Igreja das Rocas. O jovem pastor também já foi
convidado para atuar em outras igrejas em Parnamirim, Canguaretama, Vera Cruz e
Extremoz.
Futuro
Para o
jovem pastor, 2013 foi um dos anos mais turbulentos para sua saúde. “Eu tive
muitas enfermidades, muita gripe, mas sempre perseverando, sempre crendo que
Deus estava comigo e que aquilo ia passar”, destacou.
O
conforto para todos os percalços está na mensagem divina. “Mas Jesus disse que
no mundo a gente ia ter aflição.A gente vai passar por dificuldade, mas com a
certeza de que ele venceu o mundo e que nós vencemos com ele”, acredita. Sobre
o futuro, ele já destinou a Deus. “Eu espero crescimento, desenvolvimento a
cada dia. A gente sabe que está se aperfeiçoando. Todo mundo erra. Mas em
Cristo a gente pode chegar à perfeição”, completou.
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