Durante décadas, um prédio localizado na
Avenida Deodoro da Fonseca, em Petrópolis, sediou o antigo e tradicional jornal
Diário de Natal e a Rádio Poti. Hoje, o prédio está abandonado e servindo de
abrigo para usuários de drogas, motel, “residência” para moradores de rua,
criador de insetos e ninho de uma família de gaviões. O prédio está nessa
situação desde 2010, quando o periódico mudou sua sede para o bairro de Igapó,
na zona Norte de Natal. Em ruínas, deteriorado e tomado pelo mato e lixo, nem
de longe o local lembra os tempos áureos do jornalismo potiguar. Toda essa
situação tem causado medo e insegurança aos moradores que esperam, há anos, por
uma solução do problema.
A Rua Valdemar Falcão, localizada entre a Avenida
Deodoro da Fonseca e a Rua Floriano Peixoto, tem pouco mais de dez casas. A
maioria habitada por mulheres e idosas. A rua fica localizada na lateral do
antigo prédio do Diário de Natal e os moradores são obrigados a conviver
diariamente com os transtornos causados pelo abandono do prédio. A igreja da
Fraternidade Rosacruciana, que fica localizada na rua, já foi arrombada quatro
vezes. Agora, eles reforçaram a segurança com cadeados e grades. É comum
encontrar nas casas, câmeras de segurança e cerca elétrica como forma de se
proteger.
A reportagem d’O Jornal de Hoje entrou no prédio. Onde
ficava a antiga recepção, hoje é possível encontrar roupas sujas, garrafas de
bebidas alcoólicas, restos de comida, preservativos usados, material para uso
de drogas e muito lixo.
A aposentada Beilda Mota, de 58 anos, mora na residência
há mais de 40 anos e conta que veio para Natal fugindo da insegurança de São
Paulo e agora, segundo ela, se depara com uma situação três vezes pior. Ela
conta que em função dos moradores de rua que “vivem” no prédio, fica
impossibilitada de sentar na calçada – costume que era tradição entre os
vizinhos. Para sair de casa, a situação é ainda mais delicada, pois,
normalmente, é abordada pelos usuários de drogas.
Para piorar ainda mais a situação da dona de casa, toda
vez que ela sai de casa é atacada pelo gavião, que construiu seu ninho no
prédio antigo do Diário de Natal. “Já perdi as contas de quantas vezes fui
atacada. Hoje, para sair de casa só se for de sombrinha ou de chapéu, pois a
minha cabeça é alvo certo do gavião. Sou até motivo de chacota dos vizinhos,
pois todo mundo me conhece como a ‘senhora do gavião'”, relata Beilda Mota. Ela
conta que já procurou o IBAMA e o Corpo de Bombeiros para resolver o problema
do gavião, mas foi informada que não poderiam fazer nada.
Ela também explica que, por iniciativa dos próprios
moradores, já foi comprado cimento e tijolo, várias vezes, para fechar as
entradas do prédio, e sempre os moradores de rua derrubam o muro. “Estamos
vivendo em uma de tensão e desespero, porque não sabemos mais a quem recorrer.
O medo já é uma constante em nosso cotidiano. Estamos vivendo presas em nossas
próprias casas”, afirma.
Thais Mota é filha de Beilda e mora na mesma casa que a
mãe a avó, de 78 anos, que tem Alzheimer. Ela relata que as portas e janelas
foram reforçadas com grandes cadeados em função do risco de assalto e foram
obrigadas a lajear as casas antigas com medo de os ladrões destelharem as
casas. Segundo Thais, nos finais de semana a situação é ainda mais complicada,
quando o fluxo de pessoas e carros pela região é bem menor.
“A situação chegou ao ponto de termos que realizar um
rodízio entre os homens da família, de modo que todo final de semana alguém
durma aqui como forma de intimidar, já que somos uma casa só de mulheres. À
noite aqui a situação é tensa, pois só ouvimos os gritos de quem está lá
dentro, desse elefante branco que está na nossa frente”, relata Thais Mota.
Diante do medo, Thais chegou a plantar um pé de pião em frente a janela para
observar, entre os galhos, o movimento de dentro do prédio.
INSETOS E ROEDORES
A dona de casa Jaira Amorim, de 57 anos, mora na rua
desde pequena. Ela reclama, além da segurança, da proliferação de insetos,
principalmente muriçocas. “Sou obrigada a fechar as portas e janelas da minha
casa às cinco horas da tarde se eu quiser dormir à noite”, conta. Jaira se
mostra preocupada também com as árvores que estão dentro do prédio, pois,
segundo ela, estão cheia de cupins e podem cair a qualquer momento. Ela nunca
foi atacada pelo gavião, mas já presenciou vários ataques.
“Além de todo transtorno em termos de segurança, temos
riscos à nossa saúde. Lá tem todo tipo de insetos e roedores e é um potencial
lugar para proliferação do mosquito transmissor da dengue”, afirma. Jaira
Amorim conta que meses depois de o periódico deixar o prédio, os moradores
fizeram um mutirão de limpeza e, com cinco agentes de endemias, e encontraram
inúmeros focos do mosquito.
A dona de casa conta que a novidade é a presença de
“filhinhos de papai” que estão frequentando o prédio abandonado no final da
tarde. “Era comum vermos moradores de ruas passando lá dentro, mas agora vemos
muitos filhinhos de papai, bem vestidos, arrumados, passeando lá dentro. Dá
para perceber que eles vêm para fumar maconha e eles não têm medo dos moradores
de rua. “Nesses dias aparece algum corpo aí e ninguém pode fazer nada, porque
não somos doidos para entrar lá”.
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