Um dos gêneros musicais mais afetados pela
ignorância do público, ao ser confundido com o pagode, o samba está em alta em
Natal. Por Roberta Sá, hoje uma referência nacional. Por Camila Masiso, cujo
novo disco, Patuá, apresenta elementos reconhecíveis em vários sambistas. Por
Valéria Oliveira, quase um estandarte, que lançou disco em homenagem a Clara
Nunes (“Em águas claras”) e organizou o projeto Cores do Nosso Samba, encontro
de artistas locais com nomes relevantes da cena carioca. E, agora, pela estreia
do novo projeto Segunda Oficial do Samba, montado pelo cavaquinhista e
compositor Marcos Souto, em parceria com o mossoroense André da Mata. A ideia é
que às segundas-feiras, uma roda com músicos seja armada para fomentar uma
cultura com vastas possibilidades de expansão. A abertura será depois de amanhã
(08), no Armazém Hall, na Ribeira, às 19h. Preço: R$ 10,00.
A
inspiração surgiu nas rodas de samba cariocas (as paulistanas e baianas também
foram observadas). O compositor André da Mata reside no Rio de Janeiro e por lá
viu a importância que esse tipo de evento tem para as comunidades e, sobretudo,
para o mercado do samba. A 2500 km de distância daqueles morros e subúrbios
míticos, aqui em Natal, Marcos (foto) pensava a mesma coisa. “Natal é a terra
do forró. Samba não toca no rádio, não é um gênero fácil. Ele é mais poético,
fala de histórias de amor com respeito, ao contrário do axé e do forró
comercial, que banalizam isso. Todos dois bebem na fonte do samba. Temos um
público pequeno, mas, por outro lado, fiel, como se o samba fosse por uma
religião”, dimensiona Marcos, autodidata com 15 anos de experiência no meio –
ele foi o idealizador da Quinta Viva do Samba, projeto que já atrai muita
gente, às quintas-feiras, para a praça André de Albuquerque, na Cidade Alta.
Como o
bebop, que reunia jazzistas depois do expediente que estes davam em grandes
bandas que anivam festas em suntuosos salões da América do começo de século XX,
o samba de roda às segundas-feiras tem a proposta de servir de encontro
descontraído para os músicos, após o fim de semana de labuta com seus grupos
originais. “Não usaremos o palco do Armazém Hall. Montaremos um tablado no meio
do lugar, com o povo em volta, em contato direto com os músicos. Serão três
horas dessa interação”. Marcos espera aproximadamente 600 pessoas, número
animador para início de empreitada. No repertório, uma mescla entre tradição e
novidades. “Na primeira hora, tocaremos clássicos de Cartola, Noel Rosa e
outros compositores conhecidos. Na segunda, será a vez dos temas locais, com o
trabalho autoral potiguar. E na última hora, o lado popular, com Fundo de
Quintal e temas bem conhecidos do público”.
Oito
músicos compõe a escalação titular do ‘primeiro jogo’. Além de André da Mata e
Marcos Souto, ambos no cavaquinho, a roda terá Bruno Pessoa, no pandeiro,
Gustavo Monte, no violão 7 cordas, Maurício Souto, no surdo, Sérgio Santies, na
percussão geral, Thiago Guedes, também no cavaquinho e Wagner Faustinho, no
rebolo. Uma vez por mês será convidado um músico de projeção nacional, para
aumentar a visibilidade do projeto e da cena natalense. “Será como uma ressaca
do final de semana, no dia da folga dos músicos. Na Segunda Oficial do Samba
eles não terão obrigação de nada, serão livres para improviso. Aliás, tudo o
que tocaremos será de improviso”, destaca Marcos. Com sua banda Arquivo Vivo
(da qual fez parte até ano passado), ele tem no currículo abertura de shows de
Almir Guineto e Neguinho da Beija-Flor, além de uma série de prêmios regionais.
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